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Álcool e outras drogas: Alguns olhares sobre a redução de danos

Álcool e outras drogas: Alguns olhares sobre a redução de danos

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Rodrigo Coletty
Psicólogo

27 de outubro de 2022

Quando falamos no cuidado e atenção, dentro de um tratamento para pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas, é muito corrente falarmos da redução de danos. 

Pois bem, redução de danos configura-se como uma estratégia para o cuidado de pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas, que visa, diante da dificuldade que uma pessoa possa ter de cessar totalmente com seu consumo, ou diante de um desejo de não parar com este consumo, reduzir progressivamente o mesmo, de modo a amenizar os impactos e danos por ele causados, podendo ou não chegar à abstinência. Ou seja, a parada completa com esse uso.

Nesse sentido, hoje falarei um pouco sobre alguns olhares que podemos ter sobre a redução de danos. Um primeiro olhar que podemos ter sobre a redução de danos, e talvez o mais comum, principalmente para quem não conhece muito sobre a prática, é o olhar de que a redução de danos é apenas uma forma, um caminho para se chegar à abstinência. O que devemos notar em relação a essa forma de enxergar essa estratégia, é que por mais que isso aconteça na prática, de pacientes conseguirem reduzir o uso de álcool e outras drogas e até pararem por completo com o mesmo, isso não se aplica a todos os casos, já que muitos, ou não conseguem parar com esse uso, ou optam por não parar. E dentro da redução de danos, tanto a dificuldade de parar quanto o desejo de não parar são respeitados, de modo que esse uso de álcool e outras drogas, que prevaleceu, seja o menos danoso e o mais responsável o possível.

Por uso responsável, me refiro a uma responsabilidade clínica de manter o acompanhamento e cuidado médico para que os danos à saúde que o consumo de álcool e outras drogas possa trazer, sejam monitorados e tratados de modo a não fugirem de um certo controle, digamos assim. E responsabilidade social, no sentido de que os conflitos e problemas sociais, eventualmente provocados pelo uso de álcool e/ou outras drogas, como brigas na família ou faltas no trabalho, por exemplo, possam ser evitados ou amenizados.  

Um outro olhar, também comum, sobre a redução de danos é a de que a mesma exige que a pessoa pare de maneira progressiva com a ingestão de álcool e outras drogas, não permitindo que a mesma decida por parar com tudo, de uma só vez. O interessante de se perceber em relação a esse olhar, é que por mais que a redução progressiva do consumo seja incentivada, não se trata de uma norma rígida, mas sim de uma conduta que é decidida em conjunto com o paciente e a partir de seu desejo e de suas possibilidades.

Nesse sentido, para alguns, reduzir os danos com uma parada progressiva é o que funciona melhor, enquanto que para outros, a abstinência e parada completa com o uso de álcool e outras drogas se faz necessária. Ou seja, cada caso é um caso e cada pessoa tem um padrão e uma forma de lidar com a dependência química e suas consequências.  Já um terceiro olhar sobre a redução de danos, é a de entende-la como uma diretriz norteadora.

Quando pensamos na Rd, dessa forma, a entendemos como mais que uma estratégia prática e pontual, mas como uma maneira de enxergarmos o mundo. Nesse sentido, em relação aos usuários de álcool e outras drogas, por exemplo, redução de danos não é só a diminuição do consumo, mas também a participação em grupos e atividades terapêuticas, o que reduz o dano de se estar sozinho na casa ou na rua sem nenhum acompanhamento, e as possíveis consequências que isso pode trazer; uma alimentação e consumo de líquidos equilibrados, o que reduziria os danos clínicos da ingestão de drogas, entre outros exemplos.  E mais do que isso, podemos observar a redução de danos, em nossas vidas e práticas cotidianas, como quando procuramos dirigir com segurança, evitando o consumo de álcool, ou quando usamos preservativos na hora do sexo, por exemplo.   

Portanto, entender a redução de danos como diretriz, é entende-la como algo muito mais amplo e profundo do que apenas uma prática para o cuidado de pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas, sendo uma estratégia que pode se aplicar a praticamente qualquer área de nossas vidas. E é justamente esse olhar mais amplo que permite que esse tratamento e cuidado às pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas seja múltiplo, flexível e atento aos desejos e demandas que essas pessoas possam trazer, respeitando suas singularidades.  Afinal, o problema não são as drogas, mas sim, o uso que se faz delas e o quão prejudicial ele pode ser. Por fim, fica essa reflexão a respeito da redução de danos, seus olhares, e o quanto ela está mais presente em nossas vidas do que imaginávamos. Para assim, também adotarmos esse olhar em nossas vidas, reduzindo alguns danos e amenizando algumas situações desconfortáveis pelas quais passamos

Invista em você, faça terapia.

Rodrigo Souza Coletty

Psicólogo CRP: 06 105990

Contato: (35) 99179-3162 (WhatsApp)

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