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Não se leve tão a sério

Não se leve tão a sério

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Rodrigo Coletty
Psicólogo

28 de setembro de 2022

Na rotina do dia a dia, seja no trabalho ou na família, é comum passarmos por situações estressantes e que nos trazem agonia, como quando discutimos com um colega ou mesmo com o chefe, no trabalho, ou quando passamos por algum tipo de conflito em casa, com nosso cônjuge, por exemplo. Diante dessas situações, não raramente, nos pegamos tentando defender alguma posição ou imagem, como a imagem de um bom funcionário no trabalho ou a posição de um bom pai no contexto de casa, por exemplo.

Essa ânsia para defendermos uma determinada posição em uma discussão pode chegar ao ponto de não conseguirmos admitir quando estamos errados. E esse, talvez, seja o ponto mais delicado quando lidamos com um conflito. O ponto de assumirmos nossos erros, deslizes e falhas e entendermos que eles fazem parte da vida, e de nossa condição enquanto seres humanos imperfeitos. E que não são por esses erros que deixaremos de ser quem somos e de termos as qualidades, competências e potencialidades que já possuímos.

Contudo, para que possamos, de fato, tanto absorver quanto exercitar essa compreensão em relação a maneira como lidamos com nossas falhas e consequentemente com os conflitos que podem surgir a partir delas, precisamos aprender a rirmos de nós mesmos e não nos levarmos tão a sério. Ou seja, quando passamos a não levar as coisas tão a sério, tão a ferro e fogo, e principalmente não nos levar tão a sério, relativizando mais as situações que vivemos e até mesmo nos divertimos com nossos deslizes, as coisas se tornam mais fáceis.

Isso porque lidar com a vida dessa forma mais leve nos permite não sentirmos tanta necessidade de afirmarmos posições ou mantermos certas imagens para as outras pessoas. Desse modo, contornar situações, mudar comportamentos ou reparar erros, deixam de ser motivos de vergonha ou culpa, e se transformam em movimentos naturais da vida, bem como, consequentemente, também nos estressamos menos.

Quando falo desse movimento de relativização da vida e das situações que vivemos, me refiro a esse processo de ponderar e entender até que ponto determinada circunstância realmente merece o nível de preocupação e ansiedade que investimos nela, e até que ponto estamos exagerando e deixando nos levar apenas por uma fantasia do medo do fracasso.

No entanto, é claro que esse tipo de mudança de mentalidade e de comportamento não é fácil e não acontece de uma hora para outra, se configurando como um processo de autopercepção e experimentação.

Autopercepção no sentido de percebermos o quanto damos importância demais para as pessoas ao nosso redor, para as questões e dificuldades que vivenciamos e para as gafes que cometemos. E experimentação na medida em que a partir desse exercício do pensamento, de nos percebermos, passamos gradativamente a experimentar uma maior leveza em relação à vida, relativizando mais as coisas que nos atravessam, bem como não nos cobrando tanto pelo sucesso e pelo não erro.  Afinal, e acima de tudo, somos seres humanos, imperfeitos, buscando sermos cada dia melhores, para nós mesmos e, consequentemente, para aqueles que convivem conosco.

Importante salientar também que quando essa rigidez de pensamento e comportamento passa a ser excessiva, de modo a levarmos tudo muito a sério e sofrermos demais com as coisas, uma ajuda profissional, através de um psicólogo e do auxílio de uma psicoterapia, faz-se necessária, para exercitarmos melhor nosso pensamento em relação a tudo isso, relativizarmos e, por fim, elaborarmos as questões por trás desses receios e ansiedades, que tanto a culpa quanto o medo de errarmos podem trazer. 

Por fim, fica essa reflexão a respeito da importância de não levarmos as coisas tão a sério e, assim, cada vez mais encararmos a vida de forma mais leve, principalmente nos tempos acelerados e, por vezes, estressantes, que vivemos hoje.

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