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Setembro Amarelo

Setembro Amarelo

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Rodrigo Coletty
Psicólogo

10 de outubro de 2022

Já estamos no início de outubro, contudo, no artigo de hoje, gostaria de falar um pouco sobre uma campanha que traz um assunto muito importante de ser debatido e que acabou de acontecer, no mês que se passou, de setembro. Me refiro ao Setembro Amarelo. 

Pois bem, essa campanha, para aqueles que não a conhecem, se trata de um movimento que busca discutir, conscientizar e, principalmente, prevenir o suicídio. Essa campanha, de abrangência mundial, se iniciou, no Brasil, a partir de 2015, sendo feita em setembro pelo fato do dia 10 de setembro ser considerado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.  

Interessante notar que, embora o Setembro Amarelo seja um movimento oficializado em alguns estados, ele ainda não o é, em âmbito nacional, por lei federal.

Com relação à cor amarelo, como símbolo do mês, sua origem se deu a partir de um incidente em 1994, nos Estados Unidos, em que um jovem cometeu suicídio em seu Mustang amarelo. Desde então familiares começaram a usar a cor como um símbolo dessa luta, o que se estendeu para a campanha, que luta contra essa problemática, que não só assola aqueles que convivem com o luto de um ente querido, que cometeu suicídio, como também a sociedade como um todo.

Por isso é tão importante a discussão aberta sobre esse tema, através de artigos, palestras e fóruns, como o primeiro Fórum de Saúde Mental de Extrema, organizado pelo CAPS e em parceria com outros setores da prefeitura, evento este que ocorreu no último dia 29 de setembro. 

O suicídio é um tema complexo, multifatorial e ainda envolto em muitos mitos e preconceitos. E eventos como este que aconteceu na semana passada surgem, justamente, no sentido de discutir e problematizar esse tema tão necessário nos dias de hoje, bem como desconstruir os mitos e preconceitos relacionados não só a esse tema, mas à saúde mental como um todo. 

Afinal, o suicídio, em grande parte, é o resultado final de um sofrimento mental que já existia e que de alguma forma extrapolou um limite, levando aquele que sofre ao ato em si, de tirar a própria vida. 

Nesse sentido de que o suicídio é multifatorial, pois, além da pré-existência de algum sofrimento mental mais significativo, como depressão, transtorno bipolar ou o uso prejudicial de álcool e outras drogas, por exemplo, influenciarem em sua incidência, também temos outros fatores, como dificuldades sociais ou financeiras, perdas, lutos, fatores psicológicos mais agudos, bem como reações mais impulsivas, ou seja, quando a pessoa, diante de um problema, se desespera e, em um ato impulsivo, tenta ou, de fato, chega a tirar a própria vida.

Portanto, entender esses fatores causais, bem como o quão planejada e insistente é a ideação de morte que uma pessoa tem, nos permite avaliar melhor o grau de risco que ela tem de vir a tentar ou consumar uma tentativa de autoextermínio. Afinal, quanto mais planejada e insistente a ideia de alguém sobre o suicídio, e mais crônico e severo seus motivos, como, por exemplo, uma pessoa com transtorno bipolar passando por uma crise financeira, sem nenhum apoio familiar, e tendo tentativas anteriores, maior a gravidade e o risco que essa pessoa tem.

Importante notar, como citado anteriormente, que o suicídio é um tema complexo e que sua discussão não cabe em único artigo. Contudo, o que quero chamar a atenção neste artigo é para a necessidade de entendermos que esse é um assunto que, por mais espinhoso que seja, deve ser discutido abertamente, pois só assim poderemos entender quem passa por um sofrimento e, na eminência de uma tentativa, precisa de ajuda. Achar que falar sobre o assunto vai encorajar a pessoa a cometer o ato não passa de um mito, pelo contrário, muitas vezes o que a pessoa precisa é ser ouvida, sem julgamentos e de coração aberto.

E esse é o intuito do Setembro Amarelo, essa conscientização a respeito da necessidade de discutirmos o tema, sem julgamentos ou preconceitos, pois só assim poderemos modificar a realidade atual, em que cada vez mais pessoas têm tentado contra si.

Sendo assim, podemos nos ajudar ou ajudar um ente ou amigo que esteja passando por esse tipo de situação, tanto conversando e mostrando apoio, como oferecendo e buscando o auxílio de profissionais, psiquiatra, psicólogo, o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Extrema ou mesmo o CVV, Centro de Valorização da Vida, cujo número é 188 e pode ser de grande auxílio, principalmente quando estamos sozinhos sem ninguém para desabafar.

Por fim, fica essa reflexão a respeito do Setembro Amarelo e sua importância para que cada vez mais possamos discutir abertamente o tema, quebrando preconceitos e estereótipos, pois só assim conseguiremos entender e prevenir esse problema tão danoso, complexo e atual, que é o suicídio e suas consequências.

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